Mesmo em estado de dor que não dá
para descrever neste momento, eu não poderia deixar de registrar meus
sentimentos para com o meu pai. Pessoa íntegra, honesta, sábia, humilde,
reflexiva, conselheira, amorosa, temente a Deus, meu pai me ensinou a ser a pessoa
que sou, imitando um pouco de suas virtudes. Meu pai foi até o fim da sua vida
com força, não física, mas força de resistir... sentindo dores e ao mesmo tempo
louvando a Deus (quando urinava, por exemplo, a dor era muito grande devido ao
estreitamento do canal urinário); força de mesmo tendo passado por um AVC no
dia anterior, respondeu ao neto “está tudo bem”; força de em seus momentos
finais, em conjunto comigo cantar uma das suas inúmeras musicas, como gostava
tanto de fazer, tudo isso com a voz baixinha, já sem ter forças para falar.
Este era o momento inicial do seu fim de vida.
Meu pai, homem de longas falas
quando necessário e/ou oportuno, amoroso, sorridente e extremamente educado com
aqueles a sua volta. Quem não tem registrado em sua memória um conselho, um
cuidado seu, uma lembrança marcante? Todos têm: filhos, netos, sobrinhos,
vizinhos, e tantos mais. Uma referência de lealdade, de compromisso com a
verdade. Um porto seguro para toda e qualquer tempestade. E não foram poucas!
Por quantas vezes, diante de situações difíceis, eu recorria justamente aos
conselhos deste homem, que com seu
jeitinho me dizia: “é melhor fazer assim”.
Meu pai foi meu conselheiro. Marcou
em minha vida profissional, quando, ao terminar o curso de magistério e assumir
uma direção de escola, me ensinou TUDO. Aprendizado este que uso até nos dias
de hoje e usarei sempre (como muitas vezes eu declarei para ele). Minhas decisões
pessoais sempre se deram depois de ouvi-lo, mesmo quando discordava. Eu sabia
que a sua experiência de vida tinha muito mais valor do que eu podia imaginar.
Marcou nas escolhas de amigos, com quem devo andar, o que devo fazer, como devo
agir em diferentes situações, sempre tendo a Bíblia Sagrada como mapa norteador
para uma vida correta.
Amante da poesia, ele me ensinou
a encontrar nas mesmas um pouco da beleza da vida. Admirador de Casimiro de
Abreu, castro Alves, Mario Quintana e Olavo Bilac, entre outros.
Nascido em 1918, meu pai sempre
foi diferente dos demais da família. Seu pai, Vicente Teles da Cruz dizia:”Zezinho
eh o mais inteligente da família, mas não tem uma ‘jega’ para andar montado”.
Nunca se apegou a bens materiais, pelo contrario, nos ensinou que devemos
investir o nosso tempo na aquisição de bens que nunca podem ser roubados:
coisas imateriais, sentimento, conhecimento, dignidade, amor...
Aprendi muito com ele. Foram
muitas as lições que Teles, também assim chamado, deixou para nós. Instruiu
cada um dos seus filhos com a verdade, até nos seus últimos dias quando acamado
repetia que nem brincando deveríamos mentir. Lições estas pretendo repassar para tantos outros com quem
eu conviver.
Pois é. Tive o privilégio de me
despedir lentamente (anos) de meu pai. Muitas vezes ele falava ir para o outro
lado. Eu fingia que não entendia e dizia, eu vou junto, para mostrar q ele não
estava só. Ele enfrentou com dignidade
um sofrimento natural da velhice. Teve diabete e conviveu com ela mais de 10
anos. Passou pelo sofrimento de princípios de AVC várias vezes, em anos
diferentes. Por um tempo usou cadeira de
rodas e mais tarde (anos), quando perdeu o equilíbrio das pernas, passou a
ficar acamado. Foram mais de três anos na cama. E mesmo lah cantava, orava,
ensinava e muitas vezes alegrava aos que iam lhe visitar. A doença nunca roubou
dele a lucidez, a dignidade nem a beleza de espírito.
De repente, no sábado
(14.02.2015), quando percebemos que seu olhar estava diferente, verificamos a
pressão e notamos q estava alta, aguardamos a melhora; baixou, passamos a noite
em vigília, pedimos para ele apertar nossa mão, ele fazia fracamente, mas
fazia; no dia seguinte, nas primeiras horas foi levado ao hospital, sua
respiração estava acelerada... Passou dois dias e foi chegado o seu dia de
partida. Tudo muito rápido. Partiu desta para outra. Estou certa de que ele
está bem! Seu corpo físico não está mais conosco, mas seus ensinamentos, sua
riqueza, sua dignidade é imortal! Estará para sempre em mim. Jamais deixarei de
amá-lo!
Jose Souza Teles, meu pai, amor
da minha vida! Seeeeemmmpre!!!!!!!
Jamais deixarei de te amar!
Obs. Soh hj tive condições de
escrever. Posso até ter errado na escrita deste texto, mas assim fica o
registro do meu momento.